sábado, 31 de outubro de 2015

Feminino Ferido



Feminino Ferido – Terra de Rudá
A mulher distraída de si...
- ...e ressentida com os abandonos sofridos se esquiva de uma relação ou se prepara para um revide.
- Sua carência a faz confundir homem com menino.
- Na nigth, indo à caça, ela perde a noção de seus sentimentos e é refém de desejos ilícitos a alma.
- Seu anseio em formar uma família pode torná-la descuidada na construção de seu feminino.
- Para não perder seu companheiro “torna-o” dependente emocional.
- Usa de manipulação para reter seu homem.
- A língua de uma mulher mal amada é serpente no cio.
- Suas menstruações carregam um grito de dor. Dor dos maus tratos seus e de seus homens que a amaram desajeitadamente e hoje moram em sua memória ancestral.
- O medo do abandono a faz submeter-se a desqualificações.
- A espera interminável pelo encontro traz uma ansiedade devoradora e a angústia lhe rouba a clareza.
- A mulher fálica vive seu exílio. Sem útero, sem seios, sem vagina busca um gozo de poder. O trabalho excessivo é seu confinamento e a independência financeira, a sua defesa.
- A mulher sem seus instintos é presa fácil de um masculino predador.
- Uma mulher frustrada é uma devastação em busca de seu destino.
- A esposa que não se fez mulher e a mãe que também não se fez mulher imporão ao homem dias repletos de vazio.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Pra Quem Sofremos Tanto?

imagem: Pietá de Marina Abramovic
Pra Quem Sofremos Tanto?
Da inadimplência emocional ao êxtase consentido  
Quem é Deus em mim? Sou homem da passagem. Passagem do século XX para o XXI. Muita coisa ainda acontece em meu peito. Esse meu tempo me pesa às costas. Contemporaneidade. Qual o sentido dessa palavra, desse tempo, desse lugar? Como suportar tantas narrativas a respeito de sucessivas derrotas? Foram duas guerras mundiais, uma ida à lua, a consolidação de um neoliberalismo, a vitória do capital sobre as relações humanas, uma democracia dissimulada, liberação sexual – AIDS... além de trazer na alma a marca de dez séculos de Idade Média fomentando intolerância, a era cruel de impérios atrozes, as comprometidas versões acadêmicas sobre nossas origens...  Hoje me percebo um homem em confluência. Confluência de desejos contraditórios, confluência de pulsões instintuais e transcendentais, confluência de tempos, culturas e verdades sazonais. Rarefeito, permeável, poroso, abrangente, plural é como me encontro hoje. Homem de difícil síntese e definição. Há uma complexidade em meu caminho que nem família, nem escola, nem estado, tampouco religião souberam compreender em essência.  Não me deixo capturar pela rede de doutrinas e crenças que usam o medo como mecanismo de manipulação. Não me sinto representado. Não me sinto representado por nenhum partido político, nenhum sistema financeiro, nenhuma religião. Essas instituições não dão conta da pessoa que me tornei. Trago em meus corpos, corpos de sonhos, corpos de realidades a marca de milênios de esperanças perdidas, jogadas fora pelo medo de Ser Quem Sou. Que abrigo me protegerá a alma do descaso do mundo? Abrigo que não me faça psicologicamente uma pessoa regredida.
   No início uma orfandade cósmica me enchia de frio os ossos. Meus olhos buscavam paisagens razoáveis à inteligência... e nada. Da onde vim, pra onde vou, quem sou... e esse céu imenso vai dar aonde? As intempéries, doenças, mortes?! Quem criou tudo isso? Vulnerabilidade é o meu nome. Vulnerabilidade. Não tardou e meu medo pariu um pai, um pai inventado, historicamente inventado, idealmente factual, oportunamente institucional. A construção das religiões que como o nome diz, nasceram para religar algo que, na verdade, nunca esteve separado, apenas ficou longe da memória, deixando marcas profundas no homem que se queria homem e não eternamente filho, filho de um pai possessivo de sua cria. A esse pai demos uma morada onde pecados eram expiados. Pecados de ir contra os preceitos estabelecidos por uma doutrina religiosa ou quem sabe, pecados do ego virar as costas para o Ser livre, potente e criador que me constitui? Depois, com a psicologia profunda, demos um significado simbólico à este pai pretensamente factual. Santos, ícones, paramentos transformaram-se em arquétipos potentes ao espírito. Aqui me senti mais liberto da tirania de seres perfeitos que me davam abrigo, como se esse abrigo não existisse, desde sempre, em minha subjetividade, como se esse abrigo não fosse o Ser que É em mim. Então, a psicologia extraiu da religião uma gama de mitologias, símbolos e releituras dos textos sagrados inspiradores do processo de nos tornarmos indivíduos mais seguros deste processo e conscientes da nossa pequeneza cósmica e grandeza humana. Isto se deu da metade do século XX pra cá. E agora, para este homem contemporâneo, uma mística potente, aberta e convergente se apresenta como Caminho que vai além das representações. O Agora, sem imagens, textos, nem interpretações se apresenta a este novo homem pós-religioso, que amadureceu psicologicamente e não necessita mais projetar seu poder anímico em terceiros, tampouco interpretar o Real como se este fosse tão somente um território de símbolos a serem decifrados. O Mistério se faz trans-cognitivo. É preciso vivê-lo como a Vida vive a si mesma. Para o homem contemporâneo, pós-web, enredado, ansioso, apressado, conectado na rede e desconectado de seus sentimentos mais profundos, fica o desejo de otimizar performances em detrimento do usufruto do Agora. Para o homem contemporâneo a fé e seus objetos-fetiches foram transformados em saber Deus no Ato de respirar o Presente. A matriz energética que constitui cada pedaço de coisa e que se encontra em todo o universo se apresenta aos olhos do homem contemporâneo como o corpo de Deus, este Mistério que não foi feito para ser entendido, mas sim, vivenciado como um surpreendente cotidiano. Um surpreendente cotidiano. A mística do Ato em se fazer Ser no mundo vai além do Deus produzido pela cultura, além do arquétipo produzido pela cultura e enraíza no Instante Agora, desprovido de devocionismos, intelectualismos, tradições e intermediários. Nutridos do Numen o filho que se fez homem, a filha que se fez mulher experenciam Deus simplesmente no Sopro que lhe respira os dias felizes, os dias tristes, os dias.

   Lembro que a cultura fez da natureza viva, livros sagrados a serem seguidos; fez do natural e seus sentidos, as inúmeras interpretações deste livro e seus intérpretes e do Agora, a cultura construiu templos a serem freqüentados por aqueles que necessitam abrigo por toda a vida. Nossa nudez numinosa foi tampada pela fé, pela moral, pelo arquétipo e permanecemos pequenas crianças com medo de nossa potência, potência erótica em Ser, potência de homens e mulheres verticalizados no amadurecimento emocional e na relação carne-espírito, mundo e vida. Nessas apropriações culturais o vento foi chamado de impermanência; o rio, de curso da vida; o oceano, de totalidade; as florestas, de áreas sombrias da alma; a montanha, de ascese; e o céu, de Deus, Mistério, grande espírito...  E os significados ficaram mais importantes do que a experiência em si, direta, inteira da Vida e suas mortes magníficas. Portanto, ao homem do passado, que ainda não se fez emocionalmente crescido ou simplesmente se recusa a crescer, a instituição da fé, como também a instituição do arquétipo realmente podem ser ferramentas úteis ao processo, mas ao homem contemporâneo cabe-lhe o Presente do Agora e todas as suas paradoxais confluências. Este Agora agridoce. Todos são os seus tempos. Todos são os seus sexos. Todos são os seus nomes. Lembrando que não nascemos mulheres e homens e a chance de nos tornarmos é mínima, pois estacionarmos como filhos ou pais é a derrota do humano. Portanto obrigado à natureza, obrigado à religião, obrigado à psicologia e finalmente, obrigado ao Agora, este território de infinitudes disponível ao olhar. Lugar de incompreensíveis méritos. Lugar derradeiro que completa toda essa cadeia que conduz à Liberdade. É tempo de sermos felizes apesar do mundo e pelo mundo.